domingo, 25 de setembro de 2011

LESÃO MUSCULAR – FISIOPATOLOGIA, DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO E APRESENTAÇÃO CLÍNICA


   As lesões musculares são a causa mais frequente de incapacidade física na prática esportiva. Estima-se que 30 a 50% de todas as lesões associadas ao esporte são causadas por lesões de tecidos moles.
   A força tênsil exercida sobre o músculo leva a um excessivo estiramento das miofibrilas e, consequentemente, a uma ruptura próxima à junção miotendínea.
  Os estiramentos musculares são tipicamente observados nos músculos superficiais que trabalham cruzando duas articulações, como os músculos reto femoral, semitendíneo e gastrocnêmio.
  Os músculos biarticulares têm velocidade de contração e capacidade para mudança de comprimento maiores, contudo, menor capacidade de suportar tensão.
  Estiramentos e contusões leves (grau I) representam uma lesão de apenas algumas fibras musculares com pequeno edema e desconforto, acompanhadas de nenhuma ou mínima perda de força e restrição de movimentos.
  Não é possível palpar-se qualquer defeito muscular durante a contração muscular. Apesar de a dor não causar incapacidade funcional significativa, a manutenção do atleta em atividade não é recomendada devido ao grande risco de aumentar a extensão da lesão.
  Estiramentos e contusões moderadas (grau II) provocam um dano maior ao músculo com evidente perda de função (habilidade para contrair). É possível palpar-se um pequeno defeito muscular, ou gap, no sítio da lesão, e ocorre a formação de um discreto hematoma local com eventual ecmose dentro de dois a três dias. A evolução para a cicatrização costuma durar de duas a três semanas e, ao redor de um mês, o paciente pode retornar à atividade física de forma lenta e cuidadosa.
  Uma lesão estendendo-se por toda a sessão transversa do músculo e resultando em virtualmente completa perda de função muscular e dor intensa é determinada como estiramento ou contusão grave (grau III). A falha na estrutura muscular é evidente, e a equimose costuma ser extensa, situando-se muitas vezes distante ao local da ruptura. O tempo de cicatrização desta lesão varia de quatro a seis semanas. Este tipo de lesão necessita de reabilitação intensa e por períodos longos de até três a quatro meses. O paciente pode permanecer com algum grau de dor por meses após a ocorrência e tratamento da lesão.

   O estiramento dos isquiotibiais é a lesão mais comum nos atletas. Os músculos isquiotibiais são os menos alongados do membro inferior e, por este motivo, mais facilmente lesionados durante a contração muscular excêntrica. A gravidade da lesão é geralmente negligenciada, especialmente na fase aguda.
   O diagnóstico da lesão normalmente é realizado a partir de um alto índice de suspeita clínica e exame clínico cuidadoso. A ressonância magnética é valiosa para se diferenciar entre uma lesão completa ou incompleta e para o planejamento do tratamento.
   A rotura completa dos músculos isquiotibiais proximalmente em sua origem é rara. A condução do caso varia entre o tratamento conservador com um imobilizador em flexão ou o reparo cirúrgico em um segundo momento. Embora o reparo cirúrgico em um segundo tempo possa apresentar bons resultados, o reparo precoce permite uma reabilitação funcional mais rápida e evita o sintoma neurológico potencial de ciática glútea.

   O que distingue a cicatrização da lesão muscular da cicatrização óssea é que no músculo ocorre um processo de reparo, enquanto que no tecido ósseo ocorre um processo de regeneração.
Fase 1: destruição – caracterizada pela ruptura e posterior necrose das miofibrilas, pela formação do hematoma no espaço formado entre o músculo roto e pela proliferação de células inflamatórias.
Fase 2: reparo e remodelação – consiste na fagocitose do tecido necrótico, na regeneração das miofibrilas e na produção concomitante do tecido cicatricial conectivo, assim como a neoformação vascular e crescimento neural.
Fase 3: remodelação – período de maturação das miofibrilas regeneradas, de contração e de reorganização do tecido cicatricial e da recuperação da capacidade funcional muscular.

O diagnóstico da lesão muscular inicia-se com uma história clínica detalhada do trauma, seguida por um exame físico com a inspeção e palpação dos músculos envolvidos, assim como os testes de função com e sem resistência externa. O diagnóstico é fácil quando uma típica história de contusão muscular é acompanhada por um evidente edema ou uma equimose distal à lesão.

   Em termos de tratamento a mobilização precoce induz a um aumento da vascularização local na área da lesão, melhor regeneração das fibras musculares e melhor paralelismo entre a orientação das miofibrilas regeneradas em comparação à restrição do movimento.
Fase aguda
   O tratamento imediato para a lesão do músculo esquelético ou qualquer tecido de partes moles é conhecido como princípio PRICE (Proteção, Repouso, Gelo ou Ice, Compressão e Elevação). A justificativa do uso do princípio PRICE é por ele ser muito prático, visto que as cinco medidas clamam por minimizar o sangramento do sítio da lesão.
  Colocando-se o membro lesionado em repouso logo após o trauma, previne-se uma retração muscular tardia ou formação de um gap muscular maior por se reduzir o tamanho do hematoma e, subsequentemente, o tamanho do tecido conectivo cicatricial. Com relação ao uso do gelo, mostrou-se que o uso precoce de crioterapia está associado a um hematoma significativamente menor no gap das fibras musculares rompidas, menor inflamação e regeneração acelerada.
   De acordo com os conhecimentos atuais, é recomendada a combinação do uso de gelo e compressão por turnos de 15 a 20 minutos, repetidos entre intervalos de 30 a 60 minutos, visto que este tipo de protocolo resulta em 3° a 7°C de decaimento da temperatura intramuscular e a 50% de redução do fluxo sanguíneo intramuscular.
   Finalmente, a elevação do membro acima do nível do coração resulta na diminuição da pressão hidrostática, reduzindo o acúmulo de líquido no espaço intersticial.

Tratamento pós-fase aguda
1. Treinamento isométrico (ie. contração muscular em que o comprimento do músculo se mantém constante e a tensão muda) pode ser iniciado sem o uso de pesos e posteriormente com o acréscimo deles. Especial atenção deve ser tomada para garantir que todos os exercícios isométricos sejam realizados sem dor.
2. Treinamento isotônico (ie. contração muscular em que o tamanho do músculo muda e a tensão se mantém) pode ser iniciado quando o treino isométrico for realizado sem dor com cargas resistidas.
3. O exercício isocinético com carga mínima pode ser iniciado uma vez que os dois exercícios anteriores sejam realizados sem dor.

    A compreensão dos mecanismos fisiopatológicos que regulam a reparação muscular e sua adaptação ao treinamento físico são essenciais para o profissional que se propõe a tratar destes pacientes. São a base para o desenvolvimento dos meios de prevenção de lesões e para o tratamento adequado e reabilitação das lesões instaladas.
   A respeito do tempo apropriado de retorno ao treino específico para o esporte, a decisão pode ser baseada em duas simples e pouco onerosas medidas: a habilidade de alongar o músculo lesionado tanto quanto o lado contralateral sadio, e ausência da dor no músculo lesionado em movimentos básicos.
   Quando o paciente refere alcançar este ponto na recuperação, a permissão de se iniciar gradualmente os exercícios específicos para o esporte é garantida.
   Contudo, sempre deve ser enfatizado que a fase final de reabilitação deve ser realizada sob supervisão de profissional capacitado.


Tiago Lazzaretti Fernandes, André Pedrinelli, Arnaldo José Hernandez

domingo, 18 de setembro de 2011

Posturas adequadas no computador


    Ao sentarmos na frente do computador é importando observarmos a postura que adotamos. A coluna deve estar bem apoiada, respeitando as curvaturas fisiológicas da mesma e também mantendo uma linha reta entra a cabeça, ombros, cotovelo e quadril. Os joelhos devem estar posicionados em um ângulo de 90º com os pés apoiados inteiramente no chão ou senão sobre um descanso de pés. O cotovelo é importante que esteja posicionado junto ao corpo, apoiado sobre o descanso de braços da cadeira e igualmente formando um ângulo de 90º em relação ao ombro e ao antebraço e sempre cuidando para manter os ombros alinhados e não elevá-los, fato este, muito comum de acontecer durante a digitação prolongada. 

    Durante a digitação é importante mantermos o teclado a frente da tela do computador, na mesma altura do cotovelo, procurando assim, manter a posição de 90º do mesmo. O punho deve estar sempre apoiado a uma superfície preferencialmente almofadada. Ao digitar evitar colocar muita pressão sobre as teclas e realizar muitos movimentos de lateralização do punho, procurando sempre manter os punhos em uma linha reta.

    Durante a utilização do mouse o alinhamento do punho também é importante de ser observado, sendo que é o mouse que movimenta para os lados e não o punho, o apoio também deve sempre ser respeitado. 

    A prevenção é a forma mais eficaz e benéfica de evitar o aparecimento de dores e lesões devido aos esforços repetitivos, portanto cuidar das posturas empregadas nas atividades do dia-a-dia é o melhor aliado para diminuir os riscos de complicações futuras.

domingo, 11 de setembro de 2011

Como escrever de forma transparente artigos científicos relevantes para a prática da Fisioterapia


Leonardo O. P. Costa, Chris G. Maher, Alexandre D. Lopes, Marcos A. de Noronha, Lucíola C. M. Costa


Resumo
Contextualização: Nas últimas duas décadas, ocorreu um nítido crescimento, de até seis vezes, do número de artigos científicos que são diretamente relevantes para a prática da Fisioterapia. No entanto, junto com esse rápido crescimento, tem-se dado pouca atenção à transparência de como são descritos os métodos e os resultados desses estudos. Mais recentemente, grupos de pesquisadores ao redor do mundo têm feito tentativas bem sucedidas para resolver esse problema por meio da criação de diretrizes que auxiliam os pesquisadores não apenas na preparação dos manuscritos, mas também garantem que detalhes importantes relacionados ao delineamento e à metodologia do estudo sejam devidamente descritos. Objetivo: Apresentar quatro diretrizes específicas para descrever artigos científicos, que são mais conhecidas como “recomendações”. Discussão: Uma rede denominada EQUATOR (Melhorando a Qualidade e a Transparência da Pesquisa em Saúde) foi criada com a missão principal de fornecer os princípios básicos de como escrever artigos científicos de forma clara e fidedigna. A rede EQUATOR engloba, entre outros, as recomendações CONSORT, que estão relacionadas com estudos controlados aleatorizados; as recomendações PRISMA, que estão relacionadas com revisões sistemáticas e meta-análises; as recomendações STROBE, que estão relacionadas com estudos observacionais e as recomendações STARD, que estão relacionadas com a descrição de estudos referentes à precisão de testes diagnósticos. Algumas revistas científicas têm apoiado a utilização dessas recomendações, enquanto, em outras revistas, o uso é obrigatório. O objetivo da utilização dessas recomendações pelas revistas científicas é garantir a tomada rápida de decisões relativas à publicação e à melhor qualidade possível de como o artigo científico foi reportado. Em última análise, essas recomendações irão ajudar os leitores, incluindo fisioterapeutas, a tomarem melhores decisões na prática clínica.

Palavras-chave: Fisioterapia; viés; diretrizes; políticas editoriais.