domingo, 4 de março de 2012

Acidente Vascular Encefálico

O Acidente Vascular Encefálico é a doença vascular que mais acomete o sistema nervoso central, suas causas estão relacionadas com a interrupção do fluxo sanguíneo para o encéfalo, podendo ser originado tanto por obstrução de uma artéria que o supre, caracterizando o acidente vascular encefálico isquêmico, quanto por ruptura de um vaso, caracterizando o acidente vascular encefálico hemorrágico, se apresenta como uma das maiores causas de sequelas permanentes que geram incapacidades físicas, cognitivas e comportamentais (Souza et al, 2003).
 
  As sequelas estão relacionadas diretamente com a localização, tamanho da área encefálica atingida e o tempo em que o paciente esperou para ser atendido. A alteração mais comum é a hemiparesia, correspondendo à deficiência motora, caracterizada por fraqueza no hemicorpo contralateral à lesão, também podendo ser acompanhada por alterações sensitivas, mentais, perceptivas e de linguagem (O’Sullivan et al.,1993) como afasia, disartria e disfagia (Smeltzer, 2000).
 A marcha destes pacientes tem um padrão ceifante, obrigando o indivíduo a realizar uma abdução exagerada do membro durante a fase de balanço, pois há uma dificuldade em flexionar o quadril e o joelho, e em dorsifletir o pé (Rowland, 1997), a espasticidade de flexores plantares que acometem estes pacientes, é caracterizada pelo pé equinovaro (Edwards,1999).
 As sequelas do acidente vascular encefálico é uma ameaça à qualidade de vida, não só pela sua elevada incidência e mortalidade, mas também pela alta morbidade que causa, implantando-se frequentemente em pessoas já com problemas físicos e/ou mentais (Azevedo et al.,2007), interferindo na sua capacidade de desempenhar suas funções e satisfazer obrigações que dele se espera (Fredericks et al.,1996), como locomover-se sozinho, além de causar problemas sociais, por isso é necessário trabalhar as mudanças de postura como rolar no leito, passar de deitado pra sentado, sentado pra de pé e as fases da marcha, porque essas técnicas quando trabalhadas precocemente são capazes de devolver ao paciente grande parte da sua funcionalidade, deixando-os capazes de realizar atividades que são de extrema importância para o seu dia-a-dia, e que não conseguiam mais executar com tal destreza após a lesão (Figueiró,2007). Muito da morbidade e mortalidade associada ao paciente com acidente vascular encefálico, advém de complicações psicológicas e dos sistemas tegumentar, respiratório e circulatório, porque estes pacientes tendem a permanecer por mais tempo no leito após serem acometidos pela patologia em questão (Knobel, 1998).
 O acidente vascular encefálico ocorre quando o cérebro é privado de seus nutrientes, oxigênio e glicose que são distribuídos aos neurônios através do sangue arterial(Adams et al.,1963), em decorrência de problemas circulatórios (Cerutti et al., 1997), ruptura ou obstrução de vasos sendo as causas mais comuns a hipertensão arterial, aneurismas, má formação arterio-venosa e também tumores e traumatismos (Durward et al., 2000), constitui a causa mais comum de óbito nos países ocidentais, atrás das doenças cardiovasculares e do câncer(Musser et al., 1995). Estatísticas recentes mostram que no Brasil é a primeira causa de óbito (Lessa,1992).
 O acidente vascular encefálico é considerado uma doença mais incapacitante do que fatal, sendo que 20% dos pacientes morrem no primeiro ano e, aqueles que sobrevivem ficam comprometidos fisicamente, socialmente e muitas vezes psicologicamente, com perda de sua capacidade de deambular, falar ou cuidar de si mesmos (Sacoo,1995).
 As alterações das funções dos pacientes acometidos pelo acidente vascular encefálico não ocorrem apenas nas áreas diretamente afetadas pela lesão cerebral, mas também em outros sítios neurais direta ou indiretamente conectados a ela, causando prejuízos físicos, comportamentais, cognitivos, sociais e psicológicos na maioria dos casos (Cerutti et al., 1997). Dentre as principais complicações, podemos citar as deficiências que interferem no movimento funcional, como: mudanças na força muscular (paralisia ou paresia), no tônus muscular (hipotonia ou hipertonia), na ativação muscular, na sensibilidade, no alinhamento corporal, no cumprimento dos tecidos, além de dor, edema e dificuldade para realizar mudanças de postura (Levit,1997).
  A fisioterapia neurológica vem contribuindo através de um processo pelo qual se ministra, orienta, guia e ensina a demanda funcional adequada, a fim de estimular que os mecanismos de reorganização neural se desenvolvam de forma ideal, na tentativa de devolver o máximo possível a funcionalidade do paciente hemiplégico. Portanto, desde a década de 80, sabe-se que os pacientes submetidos a programas de reabilitação, atingem níveis de recuperação neurológica maior que aqueles que se abstêm deles (O’Sullivan et al.,1993), por isso após a lesão encefálica, tanto a intensidade e as técnicas da reabilitação como o intervalo de tempo entre a lesão e o início do programa terapêutico influenciam na recuperação da função nervosa destes pacientes (Ekman,2000).
 O hemiplégico necessita de um retreinamento motor, pois sua dificuldade é na compreensão de como o movimento correto é executado, exigindo assim uma reaprendizagem motora baseada nas suas atividades de vida diária, para se obter a funcionalidade do membro comprometido, Quanto mais precoce o paciente receber estímulos para sua recuperação, melhor será seu prognóstico, pois através de sua reintegração com o meio ambiente, será criado e moldado novas vias sinápticas possibilitando uma adaptação do sistema nervoso, que irá favorecer a recuperação neural, esse evento denominamos de neuroplasticidade, porém o início demasiadamente precoce da reabilitação vigorosa da função motora pode ser contra produtivo (Shepherd, 1988).
 É importante trabalhar com esses pacientes as mudanças de postura como: rolar no leito, passar de deitado pra sentado, sentado pra de pé, e as fases da marcha, assim como os movimentos funcionais, pois essas técnicas quando trabalhadas precocemente devolvem ao paciente grande parte da sua funcionalidade e consequentemente a qualidade de vida, deixando-os capazes de realizar atividades que são de extrema importância para o seu dia-a-dia, e que não conseguiam mais executar com tal destreza após serem acometidos pela lesão (Myers,1995).
 Estudos recentes levam em consideração a importância de o paciente estar atento ao realizar os exercícios e sentir vontade de participar do trabalho, isso favorece a recuperação neural (Knobel, 1998), por isso seria relevante que fosse do conhecimento dos pacientes acometidos por essa patologia, que o trabalho realizado com a abordagem dessas técnicas, devolve a ele o máximo possível de sua funcionalidade e independência como, por exemplo: levantar, deitar, transferir da cadeira de rodas, deambularem, entre outros aspectos benéficos, sendo estes movimentos essenciais para suas atividades de vida diária (O’Sullivan et al.,1993.
 O fisioterapeuta atua na retirada precoce do paciente do leito, através das mudanças de postura, estas técnicas são importantes para a reabilitação, porque além de proporcionar maior funcionalidade, ainda previnem no sistema músculo esquelético a hipotrofia muscular, atrofia, descondicionamento, contraturas, osteopenia, osteoporose, deterioração articular, ossificação heterotópica, osteomielite e deformidades. Na função visceral atua nas alterações do sistema respiratório prevenindo a diminuição do trabalho e por consequência evita a perda de força da musculatura necessária para a ventilação, a diminuição de volumes e capacidades pulmonares, estase do muco em áreas mal ventiladas levando às infecções pulmonares, atelectasias, dificuldade para tossir e broncoaspiração. Também atua nas alterações do sistema cardiovascular evitando alteração no volume da distribuição dos fluidos corporais, no descondicionamento cardíaco, na hipotensão ortostática, evita ainda a trombose venosa profunda e o tromboembolismo pulmonar. Nas alterações no sistema urinário seus efeitos poderão prevenir: estase da urina, cálculo renal, infecções, bexiga neurogênica e incontinência. No sistema gastrointestinal auxilia na diminuição ou prevenção da perda do apetite, da incontinência fecal, o fecaloma, a constipação e a obstrução.
 A mobilização precoce diminui a incidência de tromboembolismo e de trombose venosa profunda, além de permitir a melhor oxigenação e nutrição dos órgãos internos. A movimentação ativa quando possível, a mobilização passiva a massoterapia, padrões ventilatórios e uso de incentivadores inspiratórios são as principais formas de prevenir as alterações nos sistemas viscerais, além destes benefícios os exercícios terapêuticos aumentam o condicionamento físico, a resistência á fadiga, a flexibilidade, a mobilidade, a estabilidade, a melhora o metabolismo corporal, a força muscular, a eficiência cardiovascular, a coordenação, o equilíbrio, as habilidades funcionais e previne deformidades, como contraturas articulares.
 No sistema tegumentar: a úlcera de pressão é a mais comum alteração que acontece os pacientes submetidos a longo período de decúbito. Elas podem ser minimizadas por mudanças constantes de decúbito, além do uso de colchão especial, massoterapia, crioterapia e em estágio mais avançados a laser terapia (Knobel, 1998).
 A recuperação das sequelas do acidente vascular encefálico ocorre lentamente durante muitos meses, infelizmente, ao tempo em que os efeitos iniciais da sequela desaparecem os pacientes já se habituaram que o braço afetado não é mais funcional. Dessa forma, a fisioterapia serve para evitar que essa habituação ocorra, motivando o paciente a usar o braço afetado logo após o estágio agudo da recuperação, pois assim o desmascaramento de capacidades neurais intactas poderia levar a melhora funcional (Kisner, 1998).
 Deve-se estimular o lado comprometido com atividades funcionais, como pentear os cabelos, escovar os dentes, barbear-se, banhar-se, vestir-se e alimentar-se, estas podem ser estimuladas e adequadas para o auto-cuidado, superando as dificuldades, vencendo os limites, conquistando a independência e fortalecer o lado sadio (Smeltzer, 2000).
 Vale ressaltar que os distúrbios neurológicos que apresentam uma evolução progressiva, exigem que o paciente e a família estejam bem orientados a respeito das condições reais e das necessidades de cuidados especiais, necessários para manter o nível máximo de independência e qualidade de vida do paciente hemiplégico (Arnoud,1999).



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